LITERATURA AFRICANA DE LÍNGUA PORTUGUESA


Leia o fragmento que segue:

 

“Isto durou um ano. Então, numa manhã de cacimbo, apareceram quatro soldados à porta da casa, afastaram com rancor a multidão de desvalidos, e levaram Justo Santana. O infeliz foi acusado de fomentar o terrorismo e a sublevação, e desterrado para numa praia remota, em pleno deserto do Namibe, onde passou a exercer o ofício de faroleiro”. (AGUALUSA, José Eduardo. Passei por um sonho. In: CHAVES, Rita (org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p.108)

 

Com base na leitura do fragmento, assinale a alternativa que melhor representa a característica presente:

 


Lições do passado revelando uma pluralidade de situações relacionadas à vida moderna.


Retrata com pungência e sutileza as agruras de um momento histórico repressor.


Representação política, principalmente pelo uso da linguagem pautada na oralidade.


Descrição regionalista, de uma região semelhante ao nordeste brasileiro.


Lições do passado associadas à vida no campo. 

 “Poema”


Pés descalços
pisam caminhos de areia
Pés descalços
pisam sujos caminhos de areia
Pés cansados negros e descalços pisam tristes sujos caminhos de areia 

Pés negros
pisam tristes caminhos da vida 

(Idílio Rocha, poeta moçambicano. In: NEVES, João A. Poetas e contistas africanos de expressão portuguesa. São Paulo: Brasiliense, 1963, p. 66.) 

 

Tendo em vista o modo como recobram a herança do colonialismo português, os poemas lido sugere uma relação com Portugal pautada por sentimentos de: 


amor.


impotência. 


revolta. 


gratidão. 


amizade. 

Leia o poema que segue:

 

“Você, Brasil”

Jorge Barbosa



Eu gosto de você, Brasil,
porque você é parecido com a minha terra.
Eu bem sei que você é um mundão
e que a minha terra são
dez ilhas perdidas no Atlântico,
sem nenhuma importância no mapa.
Eu já ouvi falar de suas cidades:
A maravilha do Rio de Janeiro,
São Paulo dinâmico, Pernambuco, Bahia de Todos-os-Santos.
Ao passo que as daqui
Não passam de três pequenas cidades.
Eu sei tudo isso perfeitamente bem,
mas Você é parecido com a minha terra.

E o seu povo que se parece com o meu,
que todos eles vieram de escravos
com o cruzamento depois de lusitanos e estrangeiros.
E o seu falar português que se parece com o nosso falar,
ambos cheiros de um sotaque vagaroso,
de sílabas pisadas na ponta da língua,
de alongamentos timbrados nos lábios
e de expressões terníssimas e desconcertantes.
É a alma da nossa gente humilde que reflete
A alma da sua gente simples,

Ambas cristãs e supersticiosas,
sortindo ainda saudades antigas
dos sertões africanos,
compreendendo uma poesia natural,
que ninguém lhes disse,
e sabendo uma filosofia sem erudição,
que ninguém lhes ensinou.

Com base na leitura do poema e de seus estudos sobre a poesia em Cabo Verde, pode-se afirmar que:


Brasil não vê os cabo-verdianos como amigos, mas sim como rivais no poder cultural.


O Brasil nega as nações africanas de língua portuguesa.


Há profundos vínculos entre as literaturas de língua portuguesa dos países colonizados por Portugal.


A formação do povo brasileiro se contrapõe à da nação de Cabo Verde.


A literatura não pode promover o diálogo entre as nações colonizadas por Portugal.

Leia o fragmento que segue:

 

Esperavam ansiosos pela chuva, que não vinha. Mesmo que chovesse, era já tarde. Compreendia que a situação se tornava cada dia mais difícil e eu tinha que trabalhar de qualquer forma. (...) os olhos escancarados para o céu aberto sem nuvens, donde não caía a chuva. Foi um tempo terrível aquele, para as gentes da ilha. (...) A vila enchia de gente que abandonava os campos sem água. Vinham esfarrapados, magros, com chagas enormes fedendo a podridão. As mães traziam os filhos pequenos à cabeça, em grandes balaios. Paravam à porta dos sobrados e mostravam os cestos de carriço onde se viam olhos gulosos emergindo de carinhas murchas de fraqueza. 

 (SOUSA, Teixeira de. Dragão e eu. In: CHAVES, Rita (org.). Contos africanos de países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p.57-58) 

Neste fragmento, percebe-se a presença:

 


da fome, da regionalização, das riquezas.


dos cortiços, da miséria, da farta vegetação.


do clima favorável ao cultivo, da riqueza da região, das chuvas.


da seca, das riquezas regionais, da fome.


da seca, da fome, da falta de chuva e da emigração. 

“Estávamos assim sentados a enxotar pássaros em bando volteando, gavião veio vindo do sul e pum! vida renascente. Estávamos assim outravez sentados a enxotar pássaros em bando volteando, vieram gaviões rugindo e pum! pum! pum! e os ovos dos gaviões não caíram e assim os gaviões não regressaram”. (CARDOSO, Boaventura. Gavião veio do sul e pum! In: CHAVES, Rita (org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p. 119)

O texto Gavião veio do sul e pum! apresenta uma forte tendência à linguagem oral. Outro recurso característico do autor que também pode ser observado neste fragmento é:


Onomatopeia.


Aliteração.


Assonância.


Comparação.


Antítese.

 “Estávamos assim sentados a enxotar pássaros em bando volteando, gavião veio vindo do sul e pum! vida renascente. Estávamos assim outravez sentados a enxotar pássaros em bando volteando, vieram gaviões rugindo e pum! pum! pum! e os ovos dos gaviões não caíram e assim os gaviões não regressaram”. (CARDOSO, Boaventura. Gavião veio do sul e pum! In: CHAVES, Rita (org.). Contos africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p. 119)

Mesmo sendo escrito em língua portuguesa, algumas palavras apresentam algo de diferente da forma como usamos a língua no Brasil. Em relação à linguagem, e com base no fragmento apresentado, analise as afirmações que seguem:

 

I- O fragmento apresenta neologismo.

II- Escrito em aliterações.

III- É uma metáfora 

IV- Encontramos traços da oralidade.

V- Há a presença de onomatopeias.

 

São CORRETAS as afirmações contidas em:

 


I, II, V.


I, IV, V.


I, III, V.


II, III, IV.


I, III, IV.

Leia o fragmento que segue:

Tocadores, vinde tocar
marimbas, n’gomas, quissanges 
vinde chamar nossa gente
p’rábeira do grande Mar!

Sentai-vos, irmãos, escutai:
precisamos entender
as falas da Natureza,
dizendo da nossa dor,
chorando nossa tristeza.

Ora escutai; meus irmãos:
aquele sol no poente,
vermelho como uma braza
não é sol somente. Não!
é coágulo de sangue
vertido por angolanos
que fizeram o Brasil!

Ouvi o mar como chora,
Ouvi o mar como reza…

Olhai a noite que chega,
veludo negro tecido
de mil pedaços de pele
arrancados a chicote,
ai! Cortados a chicote,
do dorso da nossa gente,
no tempo da escravatura…

(...)

 

Ao ler o fragmento desta poesia de Maurício de Almeida Gomes, pode-se observar:

 


A relação fraternal existente entre Angola, Brasil e Portugal, percebida nas boas relações entre estes países.


O nacionalismo idealizado, em que são apresentados elementos que descrevem a cor local.


A militância política em busca da independência dos países da África.


A intenção do poeta em valorizar a cultura nacional, conscientizando o povo a favor de suas lutas, tanto políticas quanto culturais.


A descrição do povo angolano, sofrido devido as guerras civis.

Leia e analise com bastante atenção o texto que segue:

 

Canto para Angola

 

Hei-de compor um dia 

um canto sem lirismo 

nem tristeza 

digno de ti, ó minha terra.

 

Hei-de compor um canto 

livre e sem regras 

que de boca em boca vai partir 

nos lábios de velhos e meninos.

 

Será o canto do pescador 

com todos os sons do mar 

com os gemidos do contratado 

nas roças de São Tomé.

 

Será o canto de todos os dramas 

do algodão do Lagos & Irmão 

o das tragédias nas minas 

da kitota e da Diamang.

 

Será o canto do povo 

o canto do lavrador 

e do estudante 

do poeta 

do operário 

e do guerrilheiro 

falando de toda Angola 

e seus filhos generosos.

 (Assim se fez madrugada)

Analise as afirmações que seguem:

I- O autor utiliza-se da metalinguagem para produzir esse poema.

II- Escrito em um estilo sofisticado, que busca o rebuscamento das palavras e a métrica dos versos.

III- De forma indireta, denuncia injustiças sofridas pelo povo angolano.

IV- Descreve de forma idealizada, bela, a vida do povo angolano, muito diferente da realidade.

V- Demonstra uma boa dose de otimismo a respeito da terra amada.

 

Com base na leitura do poema, podemos dizer que são verdadeiras as afirmações:

 


I, II, III.


II, III, IV.


I, III, V.


III, IV, V.


II, IV, V.

Leia o fragmento que segue, retirado do conto “O dia em que explodiu Mabata-bata”, de Mia Couto:

 

De repente, o boi explodiu. Rebentou sem um múúú. No capim em volta choveram pedaços e fatias, grão e folhas de boi. A carne eram já borboletas vermelhas. Os ossos eram moedas espalhadas. Os chifres ficaram num qualquer ramo, balouçando a imitar a vida, no invisível do vento.

O espanto não cabia em Azarias, o pequeno pastor. Ainda há um instante ele admirava o grande boi malhado, chamado de Mabata-bata. O bicho pastava mais vagaroso que a preguiça. Era o maior da manada, régulo da chifraria, e estava destinado como prenda de lobolo1 do tio Raul, dono da criação. Azarias trabalhava para ele desde que era órfão. Despegava antes da luz para que os bois comessem o cacimbo2 das primeiras horas. (COUTO, Mia. O dia em que explodiu Mabata-bata. In: CHAVES, Rita (org.). Contos Africanos dos países de língua portuguesa. São Paulo: Ática, 2009, p. 14)

 

1 – Dote que o noivo paga aos familiares da noiva para casar-se com ela. Esse valor leva em conta que, a partir do casamento, a mulher entregará sua força de trabalho a outro grupo familiar.

2- Umidade semelhante ao orvalho.

 

Com base na leitura e em seus estudos sobre a literatura moçambicana, pode-se perceber que:


O conflito que marca a história de Moçambique por meio das cicatrizes causadas pelo racismo.


A morte do boi Mabata-bata mostra a violência de uma sociedade em guerra, representada pela presença da explosão de uma mina terrestre.


O medo e a fome são aspectos que fazem parte da sociedade moçambicana.


A morte representa a luta dos povos moçambicanos pela independência do país.


O racismo e a necessidade de assumir uma identidade livre das imposições colonialistas.

Fui até ao final do horizonte em busca do amor perdido. Fiz de tudo. Andei dias, noites, passei insônias, desespero, e o meu amor cada vez mais distante. Comecei a frequentar em segredo uma seita milagrosa. Fiz-me batizar no rio Jordão – que era a praia da Costa do Sol. Nos milagres desta seita até o mar se transforma em rio. Fiz banho de farinha de milho. De pipocas. De sangue de galinha mágica. Soltei pombos brancos para trazerem de volta o amor perdido nos quatro cantos do mundo e nada! ( CHIZIANE, 2004, p.65-66)

Com base na leitura deste fragmento, retirado de Niketche, de Paulina Chiziane, pode-se perceber que:


A autora tece uma narrativa sobre conflitos trágicos causados pelo sentimento mais complexo que o ser humano pode sentir: o amor.


Paulina, neste fragmento, organiza um discurso político entrelaçado com o lirismo das histórias da tradição oral.


Há um discurso masculino machista predominante passível de desconstrução em relação ao ponto de vista feminino.


A presença da questão da incompatibilidade entre as crenças religiosas, o que permite uma percepção de dois mundos: o contemporâneo, feito de realidades novas e evolutivas, e o que vem do passado, de uma tradição cultural que se baseia em ritos moçambicanos locais.


Por meio de um modo feminino de ver a realidade da mulher angolana, a autora discute sobre as questões políticas e culturais de seu país. 

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